FUTUROS AMANTES
(Chico Buarque)
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
THE STARS ARE FADING
Você se esqueceu de olhar para as estrelas. Sucumbiu a minha, a sua, a nossa insegurança conjunta. Você se esqueceu do que os outros sempre significaram para mim e de tudo o que eu já havia lhe falado, jogou todas as promessas ao vento enquanto moldava uma aura perfeita e falsa de felicidade ao meu redor quando felicidade plena jamais poderia ter sem estar ao seu lado.
As suas esperanças morreram quando eu matei as minhas por cometer o mesmo erro.
Agora as paredes do seu castelo são sólidas e impenetráveis, você trocou a transparência do vidro pela opacidade rústica das pedras do século XII e se recusa a me deixar entrar sem que eu saiba se está me vendo ou apenas se divertindo às custas da fome e do frio que me consomem.
Eu não posso mais bater à sua porta. Eu simplesmente não poderia suportar conviver com o conforto do seu lar recusado por você mesmo.
E ainda espero.
Utopia quando penso que você passará os braços ao redor de mim e me arrastará para dentro do seu castelo. Não haverá mais diferença se posso ou não ver através das paredes, se posso ou não ver. Por mim basta sentir que é você ao meu lado para sempre até que se canse desses meus olhos refletindo a sede dos anos sem a sua presença.
Realidade quando tenho a certeza mórbida e sádica de que me expulsará de seus portões a pontapés dizendo ter ingerido tudo o que fomos em busca de algum conforto. E eu poderei ver, pela fresta dos portões abertos o novo eu que você encontrou: uma réplica mais perfeita à maneira humana, menos defeitos externos e internos, outrem incapaz de lhe decepcionar.
Então voltarei a andar sem rumo, sem saber o que me cabe nesse mundo. Azul tentando se transformar em violeta sem vermelho, tentando aliviar a dor com as lembranças de um passado que não conseguiu se repetir, tentando receber dos lábios alheios o Amor que você — e só você — consegue dar e tomar de volta em um ciclo vital e vicioso.
Eu vou rezar para o deus que não acredito para te trazer de volta, para que você possa enxergar as estrelas, que se esvaem sobre o céu negro acima da sua moradia, mesmo sabendo que ele não pode me ouvir.
Resposta a um texto chamado Stars, escrito há menos tempo do que realmente parece.
(Chico Buarque)
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
THE STARS ARE FADING
Você se esqueceu de olhar para as estrelas. Sucumbiu a minha, a sua, a nossa insegurança conjunta. Você se esqueceu do que os outros sempre significaram para mim e de tudo o que eu já havia lhe falado, jogou todas as promessas ao vento enquanto moldava uma aura perfeita e falsa de felicidade ao meu redor quando felicidade plena jamais poderia ter sem estar ao seu lado.
As suas esperanças morreram quando eu matei as minhas por cometer o mesmo erro.
Agora as paredes do seu castelo são sólidas e impenetráveis, você trocou a transparência do vidro pela opacidade rústica das pedras do século XII e se recusa a me deixar entrar sem que eu saiba se está me vendo ou apenas se divertindo às custas da fome e do frio que me consomem.
Eu não posso mais bater à sua porta. Eu simplesmente não poderia suportar conviver com o conforto do seu lar recusado por você mesmo.
E ainda espero.
Utopia quando penso que você passará os braços ao redor de mim e me arrastará para dentro do seu castelo. Não haverá mais diferença se posso ou não ver através das paredes, se posso ou não ver. Por mim basta sentir que é você ao meu lado para sempre até que se canse desses meus olhos refletindo a sede dos anos sem a sua presença.
Realidade quando tenho a certeza mórbida e sádica de que me expulsará de seus portões a pontapés dizendo ter ingerido tudo o que fomos em busca de algum conforto. E eu poderei ver, pela fresta dos portões abertos o novo eu que você encontrou: uma réplica mais perfeita à maneira humana, menos defeitos externos e internos, outrem incapaz de lhe decepcionar.
Então voltarei a andar sem rumo, sem saber o que me cabe nesse mundo. Azul tentando se transformar em violeta sem vermelho, tentando aliviar a dor com as lembranças de um passado que não conseguiu se repetir, tentando receber dos lábios alheios o Amor que você — e só você — consegue dar e tomar de volta em um ciclo vital e vicioso.
Eu vou rezar para o deus que não acredito para te trazer de volta, para que você possa enxergar as estrelas, que se esvaem sobre o céu negro acima da sua moradia, mesmo sabendo que ele não pode me ouvir.
Resposta a um texto chamado Stars, escrito há menos tempo do que realmente parece.